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Vespa-da-madeira: o pior inimigo do pinus

Embrapa Florestas fabrica nematoide para o controle biológico da praga
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O Brasil tem hoje aproximadamente 1,6 milhão de hectares plantados de pinus. A espécie é matéria-prima para a produção de celulose, chapas, compensados, laminados, móveis, madeira para construção. Sua resina é utilizada para a produção de colas, vernizes e tinta. Mas, além destes produtos, o pinus está presente em sorvetes, xaropes, sucos, ração, capsulas de remédios, entre tantos outros produtos. Devido à importância da espécie, há 31 anos, a Embrapa Florestas criou o Programa Nacional de Controle à Vespa-da-Madeira, que é financiado pelo Fundo Nacional de Controle de Pragas Florestais (Funcema), que recebe recursos das empresas de base florestal para a realização das pesquisas.

De acordo com a pesquisadora da Embrapa Florestas Susete Penteado, a vespa-da-madeira é uma praga exótica, originária da Europa, Ásia e norte da África. “Ela foi introduzida na Austrália, Nova Zelândia, África do Sul, Uruguai, Argentina, Chile, Brasil, América do Norte e, mais recentemente, na China. No Brasil, ela foi identificada pela primeira vez em 1988, no Rio Grande do Sul e depois foi se distribuindo por Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Minas Gerais. Ela está presente em cerca de 1 milhão de hectares”, detalhou.

O principal dano que a praga causa à planta é a morte. “A praga é atraída por árvores estressadas, que liberam compostos fenólicos, que são como um perfume para os insetos. A fêmea, ao fazer a postura na árvore, deposita os ovos, os esporos de um fungo, que depois servirá como alimento para suas larvas, e uma mucossecreção. O fungo e o muco são tóxicos para a planta e a levam à morte”, explica a pesquisadora. Existem alguns sintomas de ataque, muito característicos, que podem ser observados e utilizados como atividades de monitoramento: respingo de resina, copa amarelada e orifícios de emergência.

Susete Alvez alerta que o monitoramento é extremamente importante e que ações de controle devem ser tomadas assim que é identificado o ataque da primeira árvore. “Já chegamos a encontrar 1.800 insetos em apenas uma árvore. Aproximadamente 40% eram fêmeas. Cada uma delas pode botar de 300 a 500 ovos”.

O trabalho realizado pela Embrapa Florestas tem como pontos principais o monitoramento, o manejo florestal, o controle biológico e a transferência de tecnologia. No que se refere ao controle biológico, há destaque para as pesquisas realizadas com o nematoide Deladenus siricidicola. “Ele tem a mesma origem do seu hospedeiro, ou seja, Europa, Ásia e norte da África. Foi identificado pela primeira vez em 1962. Foi apenas em 1974 que foi publicada a técnica para sua multiplicação em laboratório e em 1989, ele foi introduzido pela primeira vez no Brasil e foi realizada a criação massal em laboratório, na Embrapa Florestas. Um ano depois, ele foi liberado em campo”, afirma a pesquisadora.

Na inclusão do nematoide, espera-se ter uma alta eficiência quando a inoculação ocorre precocemente no plantio. “Por este motivo, é tão importante a utilização das árvores armadilha e também a inclusão do nematoide na maior quantidade possível. Quando este procedimento é realizado, a chance de ocorrer perdas é mínima. Esperamos pelo menos 20% de parasitismo em até dois anos, após o início das inoculações, mas já existem registros de até 70% de controle”, destaca Susete Alves.

Nematec

Em 2018, a Embrapa Florestas conseguiu o registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) do Nematec, o nematoide que realiza o controle biológico da vespa-da-madeira. A Dra. Susete explica resumidamente como ocorre a sua produção.

“O nematoide tem dois ciclos de vida. O primeiro ciclo é o de vida-livre, no qual ele se alimenta do mesmo fungo simbionte da vespa-da-madeira. É nesta fase que conseguimos criá-lo em laboratório. Depois, ocorre o ciclo de vida parasitário dentro das larvas e adultos da vespa-da-madeira. O processo de produção das doses do nematoide demora cerca de 60 dias. São 21 dias de desenvolvimento na placa de Petri que vão originar os inóculos, que serão transferidos para os frascos por mais 35 a 40 dias. Depois ocorre ainda um processo de decantação, contagem até que se obtém a dose. Cada uma delas tem 20 ml e aproximadamente um milhão de nematoides, que permite o tratamento de cerca de 10 árvores”, diz a pesquisadora.

Pandemia

Na metade de março, a Embrapa Florestas já havia iniciado a produção anual do nematoide e realizado dois envios para produtores florestais. Após este período, a entidade passou a realizar o tele-trabalho e as empresas de transporte também reduziram as atividades, por este motivo a produção massal foi suspensa e ocorreu apenas a manutenção da cultura. No mês de maio, a produção foi reiniciada.

“São necessários 60 dias para a produção de uma dose, portanto o envio das primeiras doses vai ocorrer nesta semana. Já aumentamos o número de placas necessárias para a produção e também faremos o envio durante todas as semanas até o final de agosto. A ampliação do tempo de envio é importante porque sabemos que em regiões mais frias há a ocorrência de larvas por um período maior”, justifica a pesquisadora. Todo o levantamento de necessidades e envio das doses será realizado, como de costume, pelo Funcema, que também irá mensurar a quantidade de doses enviadas em parceria com Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR) e Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor). Os estados de São Paulo e Minas Gerais, que também são suscetíveis ao ataque, devem fazer contato com o Fundo para solicitar as doses.

A Embrapa Florestas recomenda que, neste momento, os produtores façam o monitoramento dos plantios de pinus para definir as áreas prioritárias para controle. “Já sabemos que neste ano será impossível inocular todas as áreas, por isto é importante por meio do monitoramento, definir as áreas que precisam ser inoculadas com urgência e deixar as áreas menos críticas para o próximo ano”, orienta a pesquisadora.

A existência do parasitismo natural é destacado por ela. “Em várias áreas do Brasil existe um parasitismo natural alto, por isto, podemos garantir que a redução da inoculação neste ano, não vai gerar um caos. Não haverá no próximo ano, uma explosão da praga nos plantios, devido ao trabalho sério realizado pelas empresas do setor. Claro que áreas com plantios jovens poderão ter mais problemas, por isto a importância do monitoramento”, avalia.