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Menos de 10% dos cargos de gestão em empresas florestais são ocupados por mulheres

Pesquisa indica que fatores históricos podem ser responsáveis por essa proporção, mas a realidade nas empresas da área começa a mudar com políticas de inclusão
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Foi-se o tempo em que as operações florestais exigiam braços fortes masculinos para realização da colheita de madeira. Hoje, o processo pode ser realizado com o controle das máquinas por joystick, um trabalho preciso e delicado. Mesmo assim, a presença feminina nas empresa do setor ainda é incipiente, especialmente em cargos de gestão.

“Dados prévios da pesquisa que estamos realizando apontam que mais de 90% dos cargos de gerência e diretoria das empresas florestais não são ocupados por mulheres. Em raros casos, encontramos mulheres em cargos de supervisão e coordenação. A grande maioria ocupa cargos abaixo [da categoria] de analista. Elas estão em gestão do meio ambiente, viveiro e pesquisa e desenvolvimento”, adianta Mariana Schuchovski, doutora em Ciências Florestais. Fundadora da Verde Floresta – Consultoria e Treinamentos em Sustentabilidade e uma das fundadoras da Rede Mulher Florestal.

Esse resultado inicial é um dos temas discutidos na organização que foi fundada em 2018 pelas engenheiras florestais Fernanda Rodrigues e Maria Harumi Yoshioka, atuais presidente e vice-presidente da Rede Mulher Florestal, respectivamente. Elas iniciaram esse trabalho por se dizerem desconfortáveis com a situação da desigualdade, desconfiança e do olhar de descrédito sobre o conhecimento das mulheres nesse segmento.

Foto: Rede Mulher Florestal

“Esse sentimento fez com que elas resolvessem escrever um artigo científico a respeito e chegassem a uma informação muito interessante, no curso de engenharia florestal da Universidade Federal do Paraná (UFPR): com o passar dos anos, o número de mulheres foi crescendo e hoje ele é superior ao número de homens. Então, surgiu o questionamento: ‘onde essas mulheres estão trabalhando?’. Por esse motivo, elas encabeçaram o movimento. Inicialmente, muitas mulheres aderiram ao projeto, se identificando com a causa. Hoje, já temos associados de todo o Brasil trabalhando de forma voluntária, ao todo são 74, entre pessoas físicas e pessoas jurídicas, mulheres e homens”, conta Mariana Schuchovski.

Segundo Mariana, a Ibá também está apoiando a causa da igualdade de gênero no setor, e já foram realizadas reuniões com a associação a respeito do tema. Também é observada a aproximação de empresas da área florestal.A Rede Mulher Florestal, que é destinada a todos os profissionais que estejam dispostos a conversar, contribuir e que tenham afeto pela área florestal, tem como principal pauta a possibilidade de abrir oportunidades. “Argumentamos o conhecimento técnico e a competência para a execução das atividades”, defende a fundadora da Rede.

Foto: Suzano/ Thais Maria Millani

Uma nova realidade

Suzano tem apostado na contratação de mulheres há bastante tempo, além de fomentar e discutir a inclusão de mais mulheres nas suas operações. Em 2015, começou com um grupo de mulheres a discussão dos seus desafios na empresa e do direcionamento na carreira. A discussão tomou corpo e foi crescendo ao longo do tempo, sendo ampliada para outros grupos como PCDs, LGBTI+ e negros.

“Em 2019, tivemos a oficialização de uma área na companhia e o Plural – grupo de pessoas que discute diversidade e inclusão na empresa – ganhou todas as operações da companhia. Hoje, cada grupo de afinidade do Plural tem representantes em todas as plantas e um quinto grupo foi criado para discutir os desafios da convivência de diferentes gerações. Assumimos também compromissos de longo prazo, com a data de 2025 sendo um grande marco para a inclusão e a medição desses resultados. Um desses compromissos contempla 30% de mulheres e 30% de negros em cargos de liderança nos próximos cinco anos”, destaca Bernardo de Assis Viana Mansur, gerente de Gente e Gestão da Suzano.

Uma das profissionais que fazem parte deste processo de mudança dentro da Suzano é a gerente de planejamento financeiro florestal Thais Maria Millani. Ela foi a primeira mulher do Brasil a ter o cargo de gerente de colheita em uma equipe de quase 800 colaboradores. “Sinto muito orgulho disso, principalmente por ter a oportunidade de gerar ambientes inclusivos, de aumentar a diversidade e fazer a equipe ver o valor disso. Como fui a primeira no histórico da equipe, tivemos uma fase de adaptação; mais do que isso, de aprendizado. Me senti muito bem na atuação de liderança da equipe e sinto que desenvolvemos um ótimo trabalho, considero, inclusive, que deixamos um legado em conjunto”, recorda.

Ela destaca que fazer a gestão de pessoas é uma troca interessante, não pelo gênero especificamente, mas pela complexidade de perfis. “O fato de ser uma equipe majoritariamente masculina nos traz o desafio constante de provocar visões abrangentes, que muitas vezes um ambiente homogêneo não proporciona”.

Já a gerente de manutenção da florestal da Suzano em Três Lagoas, Gretta Lee Dias Facholi, relembra que no início de sua carreira passou por algumas situações comparativas, que compreendeu na época como preconceito. “Hoje, com o olhar mais maduro, percebo que tudo cooperou para o meu desenvolvimento e crescimento profissional. Ao invés de adotar uma postura de vítima, me desafiei e determinei ser vista como uma profissional respeitada e diferenciada”.

Gretta conta também que em sua jornada profissional, teve muitos gestores e colaboradores do sexo masculino que lhe ensinaram, direcionaram, desafiaram e incentivaram a prosseguir. “Felizmente, estou cercada de homens valorosos, despidos de preconceitos e dispostos a fazer com que o fim das coisas seja melhor que o princípio. Acredito que a forma que enxergamos os fatos e lidamos com eles nos levam a fazer escolhas e definir ações. Eu decido transformar o que parece mal em bem e isso só depende de mim”, afirma.