Sala de Imprensa

A experiência de Itália e Canadá no uso da madeira

Painel apresentado no 5º Simpósio Madeira & Construção também mostrou o que vem sendo feito no Brasil em sistemas construtivos em wood frame
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Países onde a madeira faz parte da cultura da construção civil. O 5º Simpósio Madeira & Construção, realizado no dia 19 de setembro, em Curitiba (PR), reuniu profissionais com vivencias no exterior para contar como é a relação da construção com a madeira no mundo. A arquiteta e professora Janice Bernardo, que morou na Itália para fazer uma parte de seu pós-doutorado, mostrou aos participantes do evento que o país é pioneiro na certificação das edificações históricas dentro de padrões de sustentabilidade e, por lá, a utilização da madeira é bem vista tanto do ponto de vista de sustentabilidade, quanto culturalmente.

“Eles têm a tradição da madeira já nas edificações antigas, desde o passado medieval, o renascimento. Há o interesse sempre no restauro e na manutenção dessas estruturas antigas, e quando são inseridas novas estruturas, elas também vêm com uma nova tecnologia, como a madeira laminada colada, por exemplo”, destacou.

De acordo com Janice, a madeira é utilizada em todas as áreas, ou seja, não há preconceito. “Há um grande avanço da arquitetura ícone do desenvolvimento dos últimos 10 anos. Um exemplo é o UniCredit Pavilion, na Praça Gae Aulenti, em Milão, que é a inserção de um produto da arquitetura contemporânea num espaço de valorização e de requalificação urbana. É uma estrutura de três pavimentos mais subsolo em madeira laminada colada”, declarou.

Sobre a percepção dos italianos com relação à madeira, a arquiteta diz que, para eles, o material é algo do cotidiano. “Em uma loja de materiais grande de lá é possível comprar um kit de casa de madeira para montar no jardim. É algo acessível. Eles também têm a cultura do ‘fazer você mesmo’, e usam muito a madeira”, ressaltou.

Da tradição do uso da madeira na Itália para um país que avança na popularização da madeira nas construções. O engenheiro e sócio-diretor da Carpinteria Estruturas de Madeira, Alan Dias, contou a experiência que teve ao conhecer o trabalho realizado no Canadá, mais especialmente na região de Vancouver, em British Columbia. Apesar de o país estar bastante avançado na construção com madeira, com inúmeras construções, há ainda o preconceito por parte da população, segundo Dias.

“O Canadá passou por um processo como o que estamos passando agora, de popularização da madeira, há 10 anos. Temos a visão de que tudo está muito avançado, mas o preconceito ainda existe por lá. A realidade só vem mudando graças aos incentivos, às instituições pró-madeira. É um processo que todos os países vão passar, porque o futuro é madeira. Os Estados Unidos estão caminhando para a construção com madeira e isso vai refletir aqui. Outro ponto que é importante ressaltar é de que o futuro é também o da industrialização. Ou seja, quanto mais industrializado, mais rápido, mais qualidade, mais barato e mais sustentável. A madeira tem tudo isso”, garantiu.

E o Brasil?

Parte do que vem sendo feito no Brasil em sistemas construtivos com madeira foi apresentada durante o evento pelo diretor da Tecverde, José Marcio Fernandes. A empresa curitibana especializada em wood frame surgiu de um sonho de mudar a realidade da construção civil no Brasil com o uso da madeira em larga escala, afirmou o diretor.

“A Tecverde se apropria da madeira como elemento construtivo de alta performance. Para nós, ela é um elemento estrutural importante que nos permite industrializar a construção e que pode trazer eficiência. Precisamos convencer os construtores disso, e esse é o nosso desafio”, afirmou.

Para o diretor, a madeira é capaz de levar a construção civil para um salto de produtividade de cinco a 10 vezes. Nas construções idealizadas pela Tecverde, um empreendimento de 250 unidades tem uma redução de prazo de 21 meses para seis meses, além de redução significativa no número de pessoas na obra e nos custos.

Outro diferencial apontado por Fernandes é com relação ao desempenho acústico e térmico. Estudos mostraram que numa variação de temperatura de 20° a 40° C fora de um apartamento, dentro dele a variação é de 20° a 24° C. Ou seja, a instabilidade de temperatura é muito menor, o que traz mais qualidade de vida.

Mas para que ela seja mais popular no Brasil, Fernandes ressalta que falta investimento dos fornecedores de materiais; ações governamentais para acabar com a bitributação e com a burocracia; e organização da cadeira da madeira para mudar esse setor.

“Na prática, são poucos construtores que têm a inovação na essência. Esses são os que acreditam mais facilmente nesta mudança. Para os construtores tradicionais, tentamos levá-los em uma construção pronta, apresentamos números, mostramos que a tecnologia é melhor. Temos conseguido um volume significativo de projetos com grandes construtores”, completou.

Evento

Promovido pela Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre) e a Universidade Tecnológica do Paraná (UFPR), o Simpósio contou com o apoio institucional da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), Associação Catarinense de Empresas Florestais (ACR), Associação Gaúcha de Empresas Florestais (Ageflor), Conselho Regional de Arquitetura do Paraná (CREA-PR), Embrapa Florestas, Faculdade Estácio, Fundação de Pesquisas Florestais do Paraná, Grupo Interdisciplinar de Estudos da Madeira da UFSC, Instituto de Engenharia do Paraná (IEP), Universidade federal de Santa Catarina (UFSC), Unicentro e Unila.

Por Maureen Bertol para o Portal Madeira e Construção